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12 Dúvidas Sobre o Anarquismo – Respondidas!

1 – O Anarquismo é socialista ou capitalista?

Socialista. As primeiras pessoas a se chamarem de anarquistas foram socialistas do século XIX, que se opunham ao Estado como meio de transição e mais tarde fariam parte da Associação Internacional dos Trabalhadores (também conhecida como Primeira Internacional).
Se alguém afirma o contrário ou não entende do assunto, ou está tentando distorcer de alguma forma o conceito de anarquismo.

2 – Além do Estado e Capitalismo, o anarquismo é contra alguma outra coisa?

Além do Estado e Capitalismo, nós somos contra todas as formas de hierarquia.
Com hierarquia, entenda qualquer forma sistêmica de prejudicar algumas pessoas e/ou privilegiar outras como o racismo, patriarcado, colonialismo, LGBTQIA+fobia, capacitismo e muitas outras.

3 – Mas no anarquismo quem ia impedir os bandidos?

Primeiro acabando com as duas maiores motivações para crimes: a miséria e a possibilidade de enriquecer. Ambas são possibilitadas pelo capitalismo na nossa sociedade atual.
Além disso, depois da revolução o anarquismo defende práticas como a defesa comunitária (a exemplo as Unidades de Proteção Popular do Rojava), tribunais populares e formas restaurativas de justiça.
Enquanto os Zapatistas não se consideram anarquistas, a prática da justiça em Chiapas é um ótimo exemplo de como essa questão seria na prática.

4 – O anarquismo defende algum tipo de organização, seja revolucionária ou na sociedade?

Sim, anarquistas defendem organização em vários níveis.
Ao nível mais básico, por exemplo, para fins de militância e atividade ele defende a formação de coletivos e temos o conceito de grupos de afinidade. Em maior escala a formação de federações e confederações anarquistas, assim como sindicatos e uniões sindicais.
Isto além é claro, de outros vários tipos e propostas de livre associação.

5 – Mas e se alguém invadisse? / Como o anarquismo se defenderia do imperialismo?

Historicamente o anarquismo nunca deixou de se organizar militarmente, desde o chamado “exército negro” na Ucrânia, as colunas da CNT-FAI, até as Unidades de Proteção Popular e Brigadas Internacionais no Rojava atualmente.
Este é um assunto muito longo, mas dando um super resumo: com a organização armada dos militantes e coletivização da defesa através do incentivo ao povo a ter suas próprias unidades também, assim como táticas de guerra irregular.

6 – O anarquismo acha que o Estado vai acabar do dia para noite? Não será necessário que alguém provoque a revolução?

Não. Todo tipo de revolução, especialmente a anarquista, vai envolver anos e anos de propaganda, preparação e organização. A organização em especial é importante porque ela vai tanto ajudar na derrubada do Estado quanto prover uma alternativa depois dele. Nós também entendemos que este processo de educação revolucionária precisa continuar depois do capitalismo para evitar seu retorno e qualquer traço de reacionarismo que possa ter sobrado na sociedade.

7 – Oque aconteceria com os serviços públicos (ex: SUS) no Anarquismo?

Anarquistas defendem que não somente é necessário como é importante que este tipo de serviço continue existindo. Por causa disso, nós acreditamos que na ausência do Estado eles devem ser geridos diretamente pelos trabalhadores (autogestão), e organizados em associações federalizadas como os outros setores da economia.
Em adição disso, anarquistas também mostram que é importante manter viva a cultura e a prática do apoio mútuo, tanto para fornecer ajuda extra em casos do dia-a-dia, quanto para emergências.
É válido lembrar que “público” e “estatal” não são sinônimos: nós defendemos políticas públicas administradas coletivamente.

8 – Oque aconteceria com o setor privado no anarquismo?

Se mais de uma pessoa trabalha em uma iniciativa, lugar, companhia, ou coisa do gênero, então esta deve se tornar propriedade coletiva.
Existe um pouco de discussão sobre o que deve ser a propriedade coletiva, mas os dois posicionamentos mais comuns são que ela deve pertencer em partes iguais a todes que trabalham lá, ou que deve pertencer à comuna (comunidade local onde está situada). Ela também deveria se articular com um conselho municipal popular, ou órgão similar, para começar a prover as necessidades imediatas da população e passar a fazer parte de uma associação a fim de contribuir com a economia em maior escala, bem como receber oque precisa nos dois níveis também.

9 – No anarquismo quem cuidaria de pessoas que por um motivo ou outro não podem trabalhar, ou cuidar de si mesmas?

Primeiramente nós entendemos que cada comuna (ou comunidade local equivalente, como município), sues membres e organização tem a obrigação de prover oque hoje é chamado de “segurança social” para todes que precisem. Isso inclui a formação e manutenção de abrigos, lares de idosos, hospitais, fornecimento de comida, medicação e outros mantimentos, assim como acesso à saúde, saúde mental, etc., de uma forma muito similar a como defendemos a continuação dos serviços públicos (ver o item 7).
Além disso, mais uma vez nós julgamos como muito importante a criação e fortalecimento de uma cultura solidária, de ajuda mútua.

10 – No anarquismo oque impediria que pessoas que podem trabalhar, mas não querem por pura preguiça, se encostem nas outras?

Antes de mais nada, por sobrevivência: se ninguém produzir nada todo mundo passaria fome.
Com a economia passando a atuar para cobrir as necessidades das pessoas ao invés do lucro, a cobrança para que todes capazes de trabalhar o façam, seria muito maior que atualmente devido a questão citada no começo deste item, e porque como agora a produção existe para suprir as necessidades, não existem mais muitas razões para não o fazer. Seria figurativamente falando, roubar da sociedade toda, um feito no mínimo difícil já que é de muita gente que estamos falando.
Além disso, a ideia que “se não forem forçadas a maioria das pessoas tende ao ócio” é um mito. Seres humanos tem um excesso de energia que dificilmente pode ser usada de forma saudável por muito tempo sem ser em algo socialmente produtivo. A questão é que o capitalismo torna a produção social árdua e pouco recompensadora, assim como romantiza e exalta o estilo de vida desocupado da classe dominante, então nós dificilmente nos damos conta disso.

11 – Mas o anarquismo não é contra a natureza humana?

Antes de mais nada, não existe de nenhuma forma, e em nenhum nível, uma natureza humana.
O próprio conceito de natureza humana é anticientífico, uma vez que não é possível observar, reproduzir ou falsear ele, assim como também é pseudocientífico, pois surge da mesma fonte que a eugenia e outras narrativas coloniais e racistas, incluindo distorções da evolução darwiniana.
O mais perto que existe de uma “natureza humana” seriam instintos básicos de sobrevivência como comer e beber água, oque não tem lá grandes implicações, ou aumentando o nível de abstração à cooperação mútua entre a espécie, uma vez que de outra forma a sobrevivência da mesma seria impossível por mais de uma geração.
No caso de persistência da dúvida, consulte o item 10 deste mesmo FAQ.

12 – Onde o anarquismo deu certo?

Aqui no Brasil quando o movimento anarquista conquistou os direitos trabalhistas através da Greve Geral de 1917.
Deu certo na Ucrânia, quando o Território Livre (também conhecido como Makhnovtchina) impediu a colonização alemã e a invasão imperialista do país.
Deu certo na Manchúria, onde a Associação do Povo Coreano na Manchúria forneceu uma vida confortável para 2 milhões de refugiades durante anos.
Deu certo na Espanha, onde até mesmo grandes cidades como Barcelona passaram a ser controladas por trabalhadores, e talvez tenha sido o período de progresso social mais rápido da história da Espanha.
Está dando certo no Rojava, que está servindo como um santuário para a minoria curda e muitas outras, além como o lugar mais avançado em diretos LGBTQIA+ no oriente médio.


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