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A Melhor Série Antifascista da Atualidade.

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M. Il figlio del secolo, ou M, o filho do século, é uma série italiana da Sky baseada no livro de mesmo nome, e dramatiza a ascensão do fascismo e do ditador da Itália, Benito Mussolini.
A um nível estético e técnico, a série não é nada menos que excelente. Ela tem um visual bonito que mistura influências da era do cinema preto e branco, com diversos movimentos artísticos e estéticos, mais notoriamente o gótico, romântico e futurista, de forma que com certeza vai alegrar adeptes destes três, com uma metalinguagem sensacional que cria muitos momentos expressivos e memoráveis.
A atuação é ótima, o elenco inteiro claramente se esforçou e tornou muitas das figuras históricas retratadas na série vivas e interessantes, com destaque para a estrela Luca Marinelli (Mussolini), Gaetano Bruno, que deu vida ao político antifascista “antagonista” da série (Giacomo Matteotti), e a Stefano Cenci, que verdadeiramente deu uma aula de recitação de poemas enquanto interpretava Filipo Tommaso Marinetti, de forma que em minha opinião vale a pena assistir à série inteira só por este personagem.
É necessário, no entanto, tomar cuidado com o conteúdo forte da série, é preciso saber que algumas cenas retratam abuso sexual, abuso familiar, relacionamentos abusivos e muita violência. Na verdade, talvez esta seja a série mais violenta dos últimos anos.
Ao ser lançada, houve muita preocupação a respeito da tonalidade da série, chegaram a pensar que seria uma série fascista, ao menos apologista ao fascismo ou a figura de Mussolini, está longe de ser o caso.
Antes de começar uma análise da série é necessário entrar em uma discussão: é possível revelar spoilers de uma série baseada em eventos históricos? Eu diria que não, então esta análise vai tocar no assunto enquanto minimiza a revelação de qualquer detalhe não necessário para oque discutiremos aqui.
Antes de mais nada, é necessário dizer que M. (como chamaremos a série para fim de abreviação) está longe de ser apologética ao fascismo. Na verdade, a série é tão antifascista que me é difícil escolher um ponto para começar a provar o contrário.
Antes de mais nada, para entendimento contextual, é necessário entender que M. é uma série com um narrador-protagonista (Mussolini) que quebra a quarta parede para compartilhar em voz alta seus pensamentos e opiniões com a audiência, e faz isso de forma constante.
Pois bem, o ator que faz Mussolini certamente é carismático e o personagem o é dentro da obra, mas a série deixa muito clara os diversos defeitos de caráter do líder fascista, de uma forma que é simplesmente impossível simpatizar com ele até para um fascista.
Na primeira cena (com exclusão da introdução) Mussolini se mostra um racista, de forma muito clara. Durante o todo da série ele é mostrado como mentiroso, traidor, covarde, impaciente, invejoso, exibido, mas principalmente que ele não acredita em uma única palavra do quê está dizendo e que despreza os outros fascistas, de forma que só continua a se associar com eles porque não consegue ninguém melhor.
Também é igualmente frequente a temática da masculinidade de Mussolini, que está o tempo todo se comparando de forma autodepreciativa com outros homens, se sentindo menos que eles e tramando contra os mesmos de forma rancorosa. Uma ilustração ótima do conceito nietzscheano de moralidade do escravo.
No entanto, a mensagem de M. não deve ser confundida com mera individualização ou escracho do fascismo. Inclusive, essa é a série com a mensagem a respeito do fascismo mais politizada e clara da qual tenho notícia, e arrisco dizer a já existir (isto é, dentro das produções com grandes orçamentos).
M. deixa explícito que o fascismo só ascendeu devido ao incentivo dado pela classe capitalista. Na série existem várias cenas onde a polícia claramente não faz nada a respeito da violência dos fasci di combattimento, que o Papa e o Rei escolheram elevar Mussolini até sua posição de poder, mas principalmente que a classe capitalista financiou o fascismo; não quero revelar detalhes sobre esta última cena, mas comentarei somente que poderia ganhar um Oscar de mensagem mais direta.
É de cair o queixo o quanto a série não poupa esforços para mostrar que o fascismo foi financiado pelas classes privilegiadas como oposição ao crescimento da esquerda radical, em especial das greves e ocupações do Biennio Rosso, período de dois anos no qual a Itália chegou muito perto de uma revolução.
Também é muito bem mostrado o quanto em grande parte a esquerda foi a resistência contra o fascismo, com destaque mais uma vez com o deputado Giacomo Matteotti, em muitos momentos a única voz denunciando o fascismo.
Se a série peca, foi em não mostrar mais a resistência contra o fascismo nas ruas e talvez ter passado uma leve impressão de inevitabilidade com isso. Seria mágico ver como Luca Marinelli nos mostraria Mussolini reagindo após saber que os fascistas foram derrotados pelos Arditi del Popolo, em especial um episódio sobre os bastidores da derrota dos fascistas em Parma.
Garantidamente, M. é uma produção audiovisual ótima e com uma mensagem muito necessária. Vale a pena assistir e recomendar.

Comentários

2 comentários a “A Melhor Série Antifascista da Atualidade.”

  1. Avatar de Sabrina Sousa Carvalho
    Sabrina Sousa Carvalho

    Essa série deveria ganhar aclamação mundial e vários prêmios, por ser extremamente importante em nossos tempos, onde o fascismo tá dando as caras com tudo e sem medo.

  2. Avatar de Sabrina Sousa Carvalho
    Sabrina Sousa Carvalho

    Duvido ver uma produção desse nível ser feita nos EUA agora e em uma grande produtora de alto orçamento, não só por conta da clássica teoria da ferradura que os yankes adoram pregar em qualquer filme de guerra que eles façam, mas também OBVIAMENTE por conta do laranjão assumindo o poder lá🤸‍♀️

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