Nova Plebe

A Revolta de Goiás que Esconderam de Nós

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   “Força incalculável” foram as únicas palavras usadas pelo líder das tropas do governo para descrever o movimento após ser derrotado pelos rebeldes. Na ocasião os posseiros da Revolta de Trombas e Formoso venceram mesmo não tendo treinamento formal, possuindo um equipamento muito inferior e estando em uma desvantagem de 6 para 1. O que possibilitou tamanha força? Por que ninguém menciona essa revolta? Vamos investigar aqui.

   A Revolta de Trombas e Formoso ocorreu no estado de Goiás, durou mais de 10 anos e, enquanto é impossível definir uma data exata para seu começo, definitivamente ganhou força após o caso de um posseiro conhecido como Nego Carreiro, que matou um sargento e um soldado que estavam tentando tomar sua colheita como auxílio aos jagunços do grileiro João Soares, que já vinha hostilizando o movimento camponês há algum tempo.

   O caso de Nego Carreiro forçou a luta de classes na região a escalonar ao ponto de se tornar um conflito aberto. Os camponeses com a ajuda de militantes do Partido Comunista do Brasil (PCB), que estava tomando uma linha insurrecional devido ao seu 4° Congresso, deram início à resistência armada e à Associação dos Trabalhadores e Lavradores Agrícolas de Formoso e Trombas.

   A Associação criada na revolta atuava como um conselho geral formado por diversos conselhos menores onde a população local se geria enquanto sociedade, resolvia seus problemas e combinava como se defender. Os conselhos menores que formavam a associação eram conhecidos como Conselhos de Córrego, já que a área de cada conselho era definida de acordo com a direção para a qual fluia a água de um córrego local, os Conselhos em si atuavam num sistema muito similar aos sovietes do início da Revolução Russa.

   A Associação conseguiu também um sistema de comunicação extremamente eficiente: além dos conselhos conseguirem se organizar para despachar mensageiros rapidamente, graças à ajuda de um líder do movimento estudantil chamado Walter Valadares e à doação de uma organização estudantil, a Associação conseguiu um mimeógrafo que contribuiu muito para disseminar mensagens na região.

   Enquanto é importante deixar claro que a revolta nunca aderiu oficialmente a uma linha ou ideologia, as semelhanças com a proposta de autogestão do anarquismo são perturbadoras: todas as evidências apontam para o fato que a direção do movimento vinha de baixo para cima, através de democracia direta dos Conselhos de Córrego até a Associação; a produção na região continuava de forma comunitária e através de ajuda mútua por meio de mutirões; mas talvez o detalhe mais curioso de todos seja que o local ficou conhecido como “Território Livre de Trombas e Formoso” e a estar sem Estado tanto oficialmente quanto de fato.

   O fato de que tivemos no Brasil uma experiência autogestionária que durou mais de uma década é uma verdade inconveniente para a burguesia brasileira e os setores pelegos da esquerda porém uma grande fonte de esperança para o povo e uma prova inquestionável de seu poder.

   Os poderosos e seus lacaios podem tentar o quanto quiserem pois eles nunca irão conseguir esconder a verdade sobre o poder popular, assim como nunca vão conseguir esconder a Revolta de Trombas e Formoso.
    A classe vencerá.


   Edição Gramática por: Lucas Rodrigues


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