O Anarquismo, como bem sabemos, é uma ideologia de esquerda fundamentada na extinção de hierarquias consideradas não naturais, as quais são vistas como geradoras de desigualdades. Nesse contexto, o Anarquismo se opõe veementemente a Estados, ao Capitalismo e à Opressão.

    Por outro lado, o "Anarco"-Capitalismo propõe o fim do Estado, mas preconiza a manutenção do Livre Mercado e do Corporativismo, o que inevitavelmente resulta no chamado neo-feudalismo. Corporações tornam-se senhoras de feudos, enquanto milícias privadas são utilizadas para oprimir e extorquir populações específicas.

    A simples explicação evidencia a contradição inerente ao conceito de Anarco-Capitalismo. Outro equívoco dos chamados "Ancaps" é a reivindicação do termo "Libertário", como sendo de origem deles, da direita. Essa afirmação é facilmente refutada pela história. Historicamente, o termo Libertário é utilizado para se referir aos anarquistas desde antes da época de Proudhon, Bakunin e outros anarquistas clássicos. Esses pensadores, vale ressaltar, surgiram muito antes de Rothbard e Mises, os tão chamados "fundadores" da corrente "ancap".

    Na realidade, o termo Anarcocapitalismo foi proposto para ser utilizado dentro da comunidade liberal extrema como uma estratégia para cooptar jovens. O Anarquismo sempre foi vendido como algo radical e divertido, então nada mais é do que uma tentativa de dizer: "Veja como nós, reacionários, somos incríveis! Queremos o fim do Estado e, ao mesmo tempo, manter o capitalismo. Somos verdadeiramente radicais."

    Entretanto, essa tentativa de amalgamar o Anarquismo genuíno com o "Anarco"-Capitalismo se revela não apenas como uma falácia lógica, mas também como uma apropriação indevida da mensagem anarquista. A verdadeira essência do Anarquismo reside na busca por equidade, solidariedade e na desconstrução de estruturas opressoras, ideais incompatíveis com a preservação do capitalismo, que perpetua desigualdades profundas.

    Portanto, ao nos depararmos com o discurso do "Anarco"-Capitalismo, é essencial discernir entre uma busca autêntica pela liberdade e apropriações retóricas que visam confundir e desvirtuar a verdadeira mensagem anarquista. A verdadeira revolução não acontece mantendo privilégios corporativos, mas, sim, demolindo as bases do autoritarismo e construindo um mundo verdadeiramente igualitário, livre de todas as formas de opressão.