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Desertos Urbanos – A crueldade de uma cidade sem água para quem precisa

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Este será um artigo autoral.

Caro leitor, lhe pergunto algo bem simples e direto, já sentiu sede?

Sede, a vontade de beber água, a vontade de se saciar, a simples vontade da sede. E então lhe pergunto mais, o que faz quando está com sede?

Vai até sua geladeira e pega agua gelada, ou talvez vá até sua pia e pegue agua da talha? Ou talvez Agua seja um real problema para se obter? Um recurso tão essencial tão fundamental para a vida sendo restrito por aqueles que tem poder.

Enquanto vivemos em cidades cada vez mais estéreis e cada vez mais desérticas, arvores são removidas, fontes desligadas e bebedouros arrancados, vivendo em cada vez mais verdadeiros desertos urbanos de nossa própria construção. O capital devasta a terra para que maquinas de metal que chamamos de carros possam ter conforto enquanto seres humanos são relegados a terra devastada do asfalto e concreto.

Pela descrição poética temos que entender, cidades cada vez mais se parecem com desertos por mais que chova. Independente de seu clima, são desertos de vida e de água potável para aqueles que não tem abrigo ou dinheiro suficiente.

Este fenômeno não é novo ou desconhecido, suas raízes são profundas no sistema capitalista colonial,- a devastação do que existe para substituir pelo que se acha que deve existir, o concreto por cima da terra, parques em estacionamentos e árvores por calçadas cada vez menores em um mundo cada vez mais dependente de carros e motos, aonde até mesmo animais urbanos que, em outrora, viviam em suas ruas e vivendo ao redor são relegados cada vez mais a apartamentos solitários, becos escuros e os esgotos.

A cidade destrói a vida em si. E ainda assim não é o ambiente de tudo.

A sede, caro leitor, a sede é cruel, violenta eu diria, e muitas pessoas passam sede constantemente. Todos os dias, todas as semanas, a devastação do urbanismo vivo em prol de um urbanismo cruel machuca seres humanos.

Em São Paulo moradores de rua reclamam de sede a noite, muitos reclamam pela falta de fontes de água limpa. A Sede se torna uma realidade de sobrevivência além do que já sofrem, nossas cidades cada vez mais hostis a vida e a pessoas, e cada vez mais cruéis para aqueles que vivem nelas, pessoas e animais.

Caminhando pela cidade ao redor de um bairro não vejo uma torneira pública, um bebedouro, até mesmo as fontes estão secas, tudo por que não queremos ver a pobreza inerente de nossa sociedade, desejamos então jogá-la para fora de nossas cidades e visões.

E ainda assim temos um mundo cruel para aqueles que vivem em suas ruas, assolados pela fome, pela sede, pelo frio e calor, pelo desespero e pelas drogas, por um mundo que parece não ligar, e, ativamente, odiá-los.

Aqui peço por uma realidade diferente, ruas mais humanas, mais vivas, menos cruéis, para que pessoas retomem as ruas dos carros e empresas, para que as ruas sejam mais uma vez um ambiente vivo para se existir, um ambiente real e que se manifesta não como concreto frio e duro, mas como arvores, grama, animais e vida. Como pessoas que possam existir na rua sem serem odiadas. E, acima disso, para que pessoas tenham abrigo, comida e água.

Água é a essência mais básica para a dignidade humana, poder beber, tomar banho, cozinhar, existir, e cada vez mais nossas cidades, cada vez mais devastadas, cruéis e secas de água potável. Se nossa política barra até mesmo a dignidade mais básica de pessoas que, só por uma condição, são consideradas menores por um mundo capitalista colonial. O que mais irão lhe negar.

A água negada aqueles mais pobres eventualmente lhe será negada. A privatização das fontes de água, das empresas é apenas um passo para a devastação dos aquíferos, de suas poluições, de suas existencias.

A dignidade humana é essencial para todos.

Agua para todos. Comida para todos. Abrigo para todos.

Abaixo a devastação urbana!


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