É com profundo pesar que informamos o falecimento de Nêgo Bispo, uma das figuras mais proeminentes e respeitadas na comunidade quilombola brasileira. Sua partida deixa um vazio, não apenas entre aqueles que compartilharam sua jornada, mas em todo o cenário intelectual do país.
Nêgo Bispo é reconhecido como um dos principais pensadores do tema comunidades tradicionais do Brasil. Escreveu artigos e livros sobre a história de resistência do povo negro. Foi um dos maiores intelectuais quilombolas, dedicando sua vida ao estudo, à preservação da cultura afro-brasileira e à luta pela promoção da igualdade racial. Nascido em 10 de dezembro de 1959, Nego Bispo teve uma trajetória marcada por sua incansável dedicação à educação e à valorização da história e identidade quilombola. Para a professora de Filosofia da UERJ Camila Jourdan, “sua contribuição foi para a resistência da vida ao capital, pois ele sempre viveu aquilo que defendeu, e para a construção de narrativas e formas de ensinar-aprender contra-hegemônicas da nossa história e colonização. Ele é um pensador, antes de tudo, do aqui e agora, do que há no tempo presente de guerra colonial e resistência contra colonial. Por isso é uma referência situada para pensarmos o que ainda podemos fazer para reconstruir modos de vida comunitários diante da continuada violência, que segue matando nas favelas e periferias, enquanto o agronegócio destrói com sua monocultura o planeta. Creio que devemos pensar e estudar sua trajetória como um filósofo e militante libertário antirracista.
Acho que, além de divulgar suas ideias e retomar seus ensinamentos, trata-se de tomar sua vida como exemplo, e tentar aplicar aspectos da vida comunitária, e da forma de lidar com o tempo, o trabalho, e os saberes que ele identifica como sendo a quilombola e panorâmica. Buscar também ressignificar a nossa história por meio daquilo que foi varrido, pelo fogo e pela violência, para além do que poderia ser lembrado, tornando assim possível de ser dito o que foi tomado como indizível. Por fim, se engajar nas lutas concretas que procuram destituir este estado colonial, retirar dele o que ele saqueou dos povos em resistência, e, assim, poder ter condições mínimas para perpetuar as manifestações culturais coletivas que carregam outro modo de vida em seu cerne” concluiu a professora.
Em nota, a família de Nêgo Bispo agradece as manifestações de apoio e solidariedade neste momento difícil.
Que Nêgo Bispo descanse em paz, deixando-nos um legado valioso que continuará a inspirar e transformar vidas.
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