Um dos mais notórios representantes, e talvez a mais alta voz, da tendência que vem sendo conhecida como “absolutismo da liberdade de expressão” é sem dúvidas o digital influencer e podcaster conhecido como Monark.
Monark em sua polêmica mais emblemática chegou a expressar, e mais tarde a declarar que não se arrependeu de ter expressado, o que acabou por sedimentar seu erro, que seria favorável a criação de um partido nazista no Brasil. Não é difícil entender a razão disso ser o contrário de liberdade, mas vamos elaborar um pouco.
Monark é, no entanto, sintoma de um quadro muito maior. A direita tem uma verdadeira obsessão com essa tal liberdade. Por exemplo, Bolsonaro chegou a declarar que “podemos viver sem oxigênio, mas não sem liberdade”, o lema de Javier Milei é “viva la libertad carajo!” e reacionários de todo o tipo vivem com a palavra “liberdade” na boca. Até os ultraliberais que se denominam “anarco” capitalistas vivem defendendo uma suposta liberdade.
Anarquistas, no entanto, não compactuam com esse tipo de discurso. Mas porque quando o anarquismo seria em teoria o mais alto ponto da defesa da liberdade? Nos opomos justamente porquê o anarquismo é o ponto mais alto dessa defesa, entenda o porquê.
Antes de mais nada, é necessário definir o que liberdade é. Entrando no campo da filosofia para esta análise, e pegando a definição mais antiga em mãos, Aristóteles definia liberdade como algo nas linhas de a capacidade de decidir por uma determinada ação ou a omissão de tal ação. As definições de liberdade pela história da filosofia continuaram em uma linha similar, Kant, por exemplo, afirmou séculos depois que a liberdade é dar regras para si mesme.
Ainda na filosofia, há uma divisão da liberdade em dois conceitos maiores: A liberdade negativa, que é a liberdade de algo ou contra algo, a liberdade de não se estar na cadeia, por exemplo, e a liberdade positiva, que é a liberdade para se fazer algo, como, por exemplo, alguém que faz o ENEM e é livre para escolher entre os cursos possíveis com a nota que tirou na prova.
Aqui se faz visível um padrão que a direita e seus discursos ignoram propositalmente: Não existe liberdade em abstrato. Não há “liberdade em geral”, a liberdade só é concedida e só existe em casos. Obviamente nenhum caso pode justificar oprimir e tirar a liberdade de outras pessoas, e é por isso que não deve haver liberdade para o fascismo.
Analisando agora o dizer de Milei, é necessário questionar: Liberdade para quem? Liberdade para quê? Milei certamente é mais livre agora, já que pode apontar familiares para cargos públicos depois de se livrar da lei antinepotismo, porém, o povo argentino não será mais livre para fazer uma reunião de mais de três pessoas sem alertar as autoridades. É assim que a direita quer liberdade.
Vamos nos aprofundar agora com uma definição anarquista de liberdade. O filósofo anarquista alemão Max Stirner definiu liberdade como responsabilidade pelas próprias ações, assim a liberdade seria a responsabilidade para com algo. Com essa definição é fácil imaginar por que Monark talvez não seja tão favorável assim a ser livre, ele frequentemente se recusa a responder por suas ações, assim como se recusa a aceitar críticas de seus erros, quando suas opiniões são condenadas, grita aos quatro ventos que está sendo censurado.
Um comportamento similar é evidente em toda a direita e sintoma de uma grande hipocrisia. A “liberdade” almejada pelos reacionários é a liberdade de sofrer consequências pelas próprias ações, ideia que é ao mesmo tempo uma mistura forçada e uma distorção dos dois tipos de liberdade entendidos na filosofia, além de impossível na realidade por seu caráter dialético, uma vez que toda ação necessariamente gera uma reação como bem mostrou Bakunin.
Existe, no entanto, falando em termos políticos, um termo para uma pessoa que faz o que quer e é livre de consequências: Autocrata. Assim como o regime onde isso acontece é uma autocracia.
A direita pode usar discursos inflamados para defenderem seu “absolutismo da liberdade de expressão” o quanto quiserem, porém, a verdade sempre será que o que eles querem é só absolutismo.
Edição gramática por: Lucas Rodrigues
Edição gramática por: Lucas Rodrigues
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