Por Herói Marginal
O período pandêmico e pós pandemico trouxe uma série de problemas “novos” (com ironia) para o nosso planeta chamado terra, o racismo entrou na pauta do dia desde de maio/2020, foi preciso viralizar um vídeo de 8 minutos com George Floyd, um homem negro, sendo sufocado por um porco fardado para as vidas negras importarem. De lá pra cá outra série de eventos trágicos ganharam muito mais mídia do que o habitual, bem como a difusão de conceitos utlizados pela militância das pautas raciais.
Paralelo a essa situação, também passou a ser observado com mais esmero os casos de racismo no futebol, mundo a fora (exemplificar com Taison na época do Shakhtar Donestk e Vinícius Júnior do Real Madrid) e torcedores argentinos ao entrar em contato com os brasileiros, uma lista imensa de “cenas lamentáveis”, se utilizando de um jargão do jornalismo esportivo. Mostrar bananas, chamar de macacos e imitar gestos são recorrentes nas torcidas de qualquer clube argentino jogando contra qualquer clube brasileiro. Uma vez que o Brasil é superconsciente racialmente, foi pactuado pela mídia e pelo senso comum que “os argentinos são racistas,” todos argentino é racista e nem adianta querer passar pano, coadunado com um populismo penal “de tem que bater, tem que descer o sarrafo nesses racistas safados, tem que prender, tem que multar”.
Todo esse processo acaba criando uma vilanificação do argentino e por tabela vitimização do brasileiro em genérico (não só os negros), que é uma tremenda cara-de-pau da branquitude brasileira, que utiliza de tais casos para continuar seu processo de assepsia, uma branquitude limpa, honesta e mais branda em relação as malvadas formas de racismo por aí.
No presente texto iremos investigar os seguintes tópicos:
- Processo de estereótipização dos argentinos
- Um país de morenos, função discursiva da democracia racial
- Termos racismo, só está em falta no estoque
1. Processo de estereótipização dos argentinos
Está se criando um falso consenso que argentinos são racistas genéricamente. Assim como os franceses não tomam banho, um estereótipo, ao ponto da Polícia Militar carioca agredir SOMENTE torcedores argentinos durante uma confusão no último Brasil x Argentina (1 a 0 pra Argentina gol do Otamendi) no Macaranã e ser elogiada pela torcida brasileira e passar de boa pela mídia, em um sentido de que: “bate neles mesmo PM, argentino tem que se foder!” ora, talvez você possa argumentar que racista tem que apanhar mesmo, ou [determinado grupo de poder] tem que se lascar, em uma espécime de ‘ódio de classes’, mas quem disse que os argentinos estão em uma posição de opressores/grupo de poder em relação aos brasileiros? E por que TODOS os argentinos seriam racistas?
Se for porque eles gritam “macaco” nos estádios, eu tenho uma péssima notícia para te informar, caro brasileirinho:
Duas situações só com o Gabigol, jogador do Flamengo.
Entre outros casos que aconteceram no Brasil, de brasileiro para brasileiro. O que diferencia um ataque racista de um torcedor do Boca e um do Fluminense? Um bom ponto seria a rivalidade entre os países. A piada geopolítica era que outros países se odeiam por religião/nacionalidade enquanto a nossa querida América Latina se odeia por futebol. Essa rivalidade se aumentou com o título da Copa América em 2019, curiosamente no mesmo ano que Bolsonaro chega a presidência, inclusive vai levantar a taça no campo e tudo, esse episódio os argentinos juram de pé junto que foi roubado para o Brasil. Com isso, aumentou a animosidade entre os países.
Esse ponto se inverteu como se os brasileiros fossem o elo fraco da relação, ao invés de ser ódio entre pares, como costumava ser. Talvez isso seja por eles serem os atuais campeões do mundo e o Brasil está a mais de 20 anos sem uma copa? (ironia)
Chega ao inacreditável ponto da Polícia Militar do Rio de Janeiro ser aplaudida – isso por si só é absurdo, por supostamente estar “batendo em racistas”, a mesma instituição que executou João Pedro, menino negro de 14 anos que estava brincando DENTRO DE CASA (da tia), com uma bala nas costas. Logo ela, a PMRJ que tem um histórico tão longo de violência. Não é o ponto do texto, mas sempre é bom falar mal da PM.
Não se deixem enganar por um falso “ódio de classes”, não há nenhum motivo – exceto pelo futebol – para esse processo de transformação de um povo páreo, senão inferior ao Brasil, como uma classe vilã e acima de nós, em uma dinânimica de agressor e agredido, afinal, quem está sendo defendido já deixou de ser a população negra a muito tempo, aliás, caso assim fosse, não teria essa imagem mal vista que tem.
O ponto não é diminuir os atos praticados por torcedores argentinos (no contexto do jogo contra o Brasil nem houve atos racistas), mas destacar o cinismo que classifica os argentinos como racistas, não só isso, mas repulsivos; desgradáveis; enquanto os próprios brasileiros não. E por que isso acontece? Te garanto que não é algo novo
2. Um país de morenos, função discursiva da democracia racial
Por uma indução do senso comum na existência do racismo (chegaremos nesse ponto no próximo tópico) uma fala dessas atualmente pode parecer burrice, só que não é um mera ignorâcia/mal caratismo (talvez) do Mourão, e sim uma reprodução de um discurso produzido no Brasil do século 20 até os dias atuais.
A democracia racial, é um mito. Assim como todos os mitos, tem a função de discurso, aplicação da ideologia, geralmente a dominante, sempre servindo os interesses da mesma, funcionando como um dogma, algo inquestionável e aceito por aquele lugar. Só pensar como o mito da criação em gênesis é utilizado para justificar transfobia, homofobia e até fatos biológicos como a gravidez, uma forma de “punição” a “mulher”. A existência do mito da criação não precede a misoginia nem o patriarcado, assim como a democracia racial não precede o racismo.
Como um bom mito, esse se baseia em meias verdades, a primeira: Sim, o Brasil é um estado multiétnico, miscigenado,1 com vários povos; termos mais libaneses que o líbano, maior quantidade de japoneses fora do Japão e Bahia se não for o maior estado negro fora do continente africano, é um dos maiores, ainda assim, termos cenas como esta:
O caso aconteceu em Salvador, cidade onde cerca de 80% da população é negra, um empresário, Crispim Terral, foi arrancado a força de uma agência bancária.
Democracia racial utiliza de um fato étnico-cultural (miscigenação) junto a um fenômeno político (democracia) como estes fossem correlatos.
A segunda meia verdade é nossa relação de raça é diferente dos outros países. Afinal, nós formos o país da colonização, o país da escravidão, só o Cais de Valongo – RJ recebeu mais escravos, sozinho, do que todo Estados Unidos da América, talvez mais do que todos os países da américa latina somados. Isso citando apenas um lugar de receptação de escravos, portanto é claro, além da habitual diferença de cada contexto sócio-político, a nossa relação com raça e racismo seria diferente dos demais países, porém NUNCA, repito, JAMAIS mais branda.
Ao contrário do que parece a primeiro momento, a democracia racial parece negar o racismo em solo brasileiro, entretanto, além disso, ela dá um passo além, para a negação das raças em si, em um sentido de não existência do negro (que já é o não branco), calcado na nossa diversidade que é real, ao mesmo tempo que é implementado em todos aparatos ideológicos valores de uma branquitude que mimetize a européia. A classe dominante escolheu uma raça, a branca, enquanto as classes subalternas batem cabeças tentando advinhar o que são. O debate sobre raça no Brasil, na metade do século vinte era praticamente um tabu, há de se observar a quantidade de classificações raciais indicadas no censo demográfico feito pelo IBGE em 1980, trazido por Clóvis Moura em Sociologia do Negro Brasileiro:
“No recenseamento de 1980, por exemplo, os não brancos brasileiros, ao serem inquiridos pelos pesquisadores do IBGE sobre sua cor, responderam que ela era: acastanhada, agalegada, alva, alva-escura, alvarenta, alva-rosada, alvinha, amarelada, amarela-queimada, amarelosa, amorenada, avermelhada, azul, azul-marinho, baiano, bem branca, bem clara, bem morena, branca, branca avermelhada, branca melada, branca morena, branca pálida, branca sardenta, branca suja, branquiça, branquinha, bronze, bronzeada, bugrezinha-escura, burro-quando-foge, cabloca, cabo verde, café, café com leite, canela, canelada, cardão, castanha, castanha clara, cobre corada, cor de café, cor de canela, cor de cuia, cor de leite, cor de ouro, cor de rosa, cor firme, crioula, encerada, enxofrada, esbranquicento, escurinha, fogoió, galega, galegada, jambo, laranja, lilás, loira, loira clara, loura, lourinha, malaia, marinheira, marrom, meio amarela, meio branca, meio morena, meio preta, melada, mestiça, miscigenação, mista, morena bem chegada, morena bronzeada, morena canelada, morena castanha, morena clara, morena cor de canela, morenada, morena escura, morena fechada, morenão, morena prata, morena roxa, morena ruiva, morena trigueira, moreninha, mulata, mulatinha, negra, negrota, pálida, paraíba, parda, parda clara, polaca, pouco clara, pouco morena, preta, pretinha, puxa para branca, quase negra, queimada, queimada de praia, queimada de sol, regular, retinha, rosa, rosada, rosa queimada, roxa, ruiva, russo, sapecada, sarará, saraúba, tostada, trigo, trigueira, turva, verde, vermelha, além de outros que não declararam cor. O total de cento e trinta e seis cores demonstra como o brasileiro foge de sua realidade étnica, da sua identidade, procurando, através de simbolismo de fuga, situar-se o mais próximio possível do modelo tido como superior.” (grifei)
Clóvis Moura
Ou seja, termos um democracia onde só um determinado grupo vence, aquele que é o dominante, nesse sentido, nada muito diferente nossa democracia em si.
Vence porque vez que é destruído a ideia de negros, por consequência soluciona o problema do racismo, porque não há grupos inferiores nem superiores, cada pessoa é diferente entre si, mas ainda sim vivemos na santa paz. Não há como falar em segregação racial, se não há o que se separar. Todavia, há separação, que com a ramificação do mito vai tentando explicar a origem dela, alguns acham que é pela condição social, os mais ousados dizem na gênese “malandra do brasileiro de não gostar de trabalhar”, ou o governo, a desigualdade e outras explicações que despistam o problema.
Além do pacto de branquitude brasileiro colocar a população negra numa condição sub-humana, que é o patamar de racializado, tirou da mesma a própria capacidade de construção de identidade. Algo bastante convieniente para um país tão grande como o Brasil e para pessoas que não querem carregar consigo o estigma de inferior, servindo aos interesses da branquitude de desmobilização e passividade social e da “negritude” dispersa em não carregar consigo o selo de não-humano, acreditando sofrer por outras questões, menos por sua raça.
Solucionando o problema da raça, como pretendia o eugenismo brasileiro, em sua políticas bem articuladas, conseguiram acabar com a “ideia de negro”, mesmo com os bons valores ocidentais europeus (brancos) existindo. Em síntese, a ideia de democracia entre raças é consolidação da ideia aparentemente oposta de extermínio da raça mais “fraca”.
Se quiser apagar um negro do mapa, chame-o de moreno, surgirá tanto efeito ideológico qualquer política de supremacia branca (que também aconteceu no Brasil).
Nesse ponto, fala Abdias Nascimento em O Genocídio Negro Brasileiro:
O objetivo não expresso dessa ideologia é negar ao negro a possibilidade de autodefinição, subtraindo-lhe os meios de identificação racial. Embora na realidade social o negro seja discriminado exatamente por causa de sua condição racial e da cor, negam a ele, com fundamentos na lei, o direito legal da autodefesa.
Abdias Nascimento
A pergunta que fica é, o que acontence quando negro sabe que é negro? A resposta para essa pergunta é simples:
Podemos concluir que, no ápice de sua eficiência, o racismo brasileiro é tão eficaz ao ponto de negar sua própria existência.
Todo panorama que apresentei foi relativo a segunda metade do século vinte. As coisas mudaram, por motivos que fariam o texto muito longo. O negro foi ‘reconhecido’, o racismo também, porém a democracia racial ainda permanence… O brasileiro continua com preconceito de ter preconceito, como dizia Florestan Fernandes, o que é ponto do próximo tópico.
3. Termos racismo, só está em falta no estoque
Pode soar um pouco anticlímax, mas irei contar uma anedota para ilustrar o que quero dizer. Uma pessoa com a altura minimante maior a média brasileira encontra muita dificuldades para comprar calçados, pelo menos a meu contexto anedótico. Você escolhe o sapato do seu gosto, está na vitrine, exposto, você entrou ali para comprar ele, ao perguntar se tem na sua numeração a vendedora responde em um sorriso não muito franco que “a gente tem esse sapato, mas tá em falta o seu número no estoque”. Vermos sapatos na vitrine, que nunca são vendidos.
Evidente, que depois de tanto tempo de debate, pauta, luta social e etc, avançamos. Entretanto encaramos um problema que ainda é decorrente da democracia racial. Algo que gerado previamente a esse próprio fenômeno social descrito, um mito do “Bom senhor de escravos/escravidão benevolente”.
Antes da democracia racial a ferramenta pregada para minimizar através de dispositivos discursivos, era o mito da escravidão branda nas colônias portuguesas e espanholas imperativo, pelo simples motivos dos senhores de escravos serem católicos. Não há nenhum tipo de ironia, foi convenciado à época e também posteriomente uma ideia que a escravidão brasileira foi um processo pacífico, por causa dos valores católicos presentes em nossa cultura, somado a ideia de “missão civilizatória de educar os povos bárbaros” e, como dizem, “os africanos já eram escravos na África”/”Os indígenas viviam se matando em guerras”, ou seja, os valores europeu sendo os salvadores daqueles povos, mesmo escravizando eles. Ou apagando mesmo.
Nem vou perder texto explicando porque isso é baboseira. O ponto a se focar em relação a esse discurso anterior é a moralidade cristã como força motriz da pacifidade colonial brasileira, herdada do mito do bom senhor para a democracia racial. Durante o “bom senhor” até em aspectos legais o escravo era uma coisa, tal como uma ferramenta de trabalho qualquer, o que não contradizia os mandamentos cristãos de amor ao próxmo, mas ora, ninguém é próximo a um mero carrinho de mão. O business da escravidão, portanto, estava acima da moralidade cristã. Como nos mostra Florestan Fernandes em Nos Marcos da Violência, 1982:
o envolvimento da Igreja católica no “mundo cristão”, que os portugueses e os espanhóis criaram, não exigia que a proteção (ou ocultação) dos “sentimentos íntimos” dos vários estratos da “raça dominante” determinasse uma compulsão ideológica tão forte, na esfera dos mores [comportamento, costumes] (portanto, uma forma exacerbada de “ideologia moral”, de fundamento étnico-religioso), que, no limite, equivalia, psicológica e socialmente, a uma utopia invertida e estática: invertida, na ânsia de pôr as contradições da ordem racial escravista cima de qualquer contestação de cunho moral e religioso; estática, na ânsia concomitante de plantar nos “bons sentimentos” do senhor a exemplaridade cristã do mundo católico-escravista.
Florestan Fernandes
Não é como a igreja católica ou o papado tivesse atuado para travar o processo colonial, muito pelo contrário.
Assim, conceito básico de se entender, se o cristianismo atual fosse algo perigoso a ordem vigente, já teria acabado faz tempo. Valores individualistas e morais são muitos interessantes para o ordem social presente, como linkei lá em cima a relação do mito da criação e as noções de gênero. Algo retroalimentável, a religião vai se adaptando a ordem e a ordem vai se baseando na religião enquanto peça ideológica fundamental2. Não só a aqueles que praticam, mas o cristianismo enquanto ideário, ou seja, não cabe a nós decidir que ideologia ou não está nos influenciando, aliás esse é o rolê da ideologia, algo contra nossos interesses. A noção de moralidade manequísta está dentro desses aparatos. Há ações boas e ações ruins, aquelas de mancham a sua “alma”(e aqui pode se trocar alma por qualquer coisa intíma que considere importante, consciência, reputação, imagem e etc) e aquelas que te purificam.
Somos um país cristão, faz parte da nossa ideologia.
Com isso, tendemos a considerar o racismo algo ruim no sentido de imoral, indesejado, intragável, inaceitável moralmente, não sendo uma estrutura de opressão/mecanismo social, mas uma falha de caráter, sendo assim, o racista passa a ser pecaminoso, alguém que deve ser expurgado dos locais santos que convivemos, com diz o livro sagrado, “Racista e Nike, amo os dois na sola”3, perdão, aquele papo de não se “sentar na roda dos escarnecedores”.
Como isso se conecta a democracia racial? Ao tratar um ato de racismo como algo excepcional na normalidade democrática que vivemos, dos valores morais que termos conosco, é a mesma sensação de ouvir algo imoral. A questão que essa normalidade atualmente já admite o racismo atualmente, “na forma mais branda”, e veja como isso se conecta ao mito do bom senhor também, aqui tem escravidão, mas é das boas. A rede Globo de televisão adora falar em racismo estrutural em seus programas, mas nunca se cita como exemplo, de como em toda novela a empregada é sempre negra ou nordestina, ou fazer uma novela na Bahia só com pessoas brancas. O sotaque pífio de atores fora do nordeste imitando nordestinos e outras regiões do país, tudo isso é jogado pra debaixo do tapete, na margem do aceitável.
“Racismo velado, estrutural, pelas estranhas”, não é tão violento como os Estados Unidos, que possui grupos como a Ku Klux Klan, e outras mílicias neonazistas, mas aí vem uma triste notícia que eu não queria dar. O Brasil nunca viveu um sistema declarado de Apartheid4 (ponto POLÊMICO, leia a nota de rodapé!) ou células extremistas brancas (a rodo), pelos motivos explicítados no tópico 2, não sacou ainda o funcionamento da ideologia racista?
O Brasil não precisa de uma KKK, porque a Polícia Militar, que mata muito mais que as polícias do Estados Unidos e qualquer uma no mundo, está fazendo o serviço por eles, porque esse racismo “não-aparente” ou “não violento”, o que é uma completa negação da realidade, está pacificado entre nós, sendo admitidos em nossa moralidade cristã-democrática-racial. O problema mora na nossa linha de moralidade, entramos em contradição ao condenar determinado tipo de racismo e achar normal os demais. A título de exemplo, o mesmo país que no século passado tinha o adultério como um CRIME, permitia em seu pleno funcionamento o casamento, em igrejas e tudo, de meninas de 14 anos, ou até menos.
Nisso que mora o imbrógolio de um debate moralizante em cima de questões como esta, porque a partir que cria-se uma moral, precisamos do guia moral e também aquele guia imoral, funcionando de forma manequísta. Isso está bem implementado, me diz o que pensa ao ouvir a palavra RACISTA! Você, em nenhuma hípotese de primeira vai pensar em um semelhante, porque o seu semelhante, ou você mesmo, é o próprio guia moral. Todos nós vivemos para agir o mais próximo possível do bom samaritano, ter a paciência de Jó e sabedoria de Salomão, por esse processo eterno de “desconstrução” e aprendizado, jamais estariamos ‘errado’, fazendo sempre o ‘certo’ e perdendo de vista o ponto chave do racismo, dominação das classes subalternas. Relação de poder como um todo.
Esse é o nível de cinismo que a democracia racial brasileira implementou
Então, amarrando todo texto: Nós, brasileiros conscientes, termos o dever moral de denunciar aqueles que não são consciente do tamanho do próprio racismo, os argentinos, os yankees, espanhóis e outros vilões pintados por aí. Essa é a lógica embutida em todo esse pensamento e repercussões.
Ao mesmo tempo que o Brasil foi o país da escravidão (possívelmente a civilização que mais teve escravos na história), depois o país da eugenia e agora é um país de morenos, na democracia racial muito bem difundida.
- Cabe salientar que TODOS OS POVOS são miscigenados, até mesmo antes da colonização, não existe uma etnia pura, em nenhum momento histórico, muito menos atualmente ↩︎
- Um ponto importante, não estou reproduzindo o discurso barato que religião é alienação e quem tem religião tá sendo enganado blá-blá-blá ↩︎
- Racista e Nike – DK47 e Guiu ↩︎
- Vivemos, só que não teve os mesmo mecanismo clarevidentes de “bairros de brancos e bairros de negros” porém, na prática, isso acontece. Vai em qualquer shopping center no Brasil, não há lei que proibam negros de frequentar shoppings, mas eles são pelo menos 1/3 das pessoas circulando e comprando coisas? Não mesmo, apesar de ser mais da metade da população brasileira. O ponto é que não foi preciso LEIS proibitivas, porque a segregação já acontece. como diz o Thaíde em Algo Vai Mudar (1992):
“Pois o Brasil é uma segunda África do Sul
Só que o racismo por aqui é bem mais covarde
Todos vivem juntos negando pequenas diferenças
Mas a coisa é parecida com o regime do Apartheid” ↩︎
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